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sexta-feira, 30 de março de 2012

O Vilão da Rinite


Estou aqui fungando feito uma condenada a espirros e lágrimas em pleno ataque de Rinite. Para quem não sofre desse mal pode parecer nada, mas, eu peço para vocês imaginarem um resfriado eterno.
E, isso nos tolhe de uma maneira que não conseguimos aproveitar os menores e gratuitos benefícios da natureza. Eu adoro levantar cedo e ver a bendita despertar aos poucos preguiçosamente  com os lentos raios do sol. Eu moro no centro da cidade e, lá pelas 5:30 hs da manhã tudo começa com um longínquo cantar de um galo. Me pergunto, como em pleno centro alguém consegue criar um galo, mas, o fato é que o bichinho canta pontualmente todos os dias. Um ou outro carro se manifesta na minha rua, talvez madrugadores cujas funções profissionais os levam antes dos outros ao seu local de oficio ou, o contrário, pessoas saindo de seus trabalhos.
Quando o primeiro ônibus para no ponto são 6 hs da manhã e esta é a minha hora. Levanto de um pulo só e desapareço de perto da cama.
Ainda escuto o suave cha,cha  das vassouras dos varredores de rua que em silêncio absoluto limpam tudo para que as massas transitem aos milhares por esta via pública durante o dia.
Tranquilamente eu me dirijo para os fundos do meu apartamento onde uma mínima área de serviço me permite um estreito convívio com a natureza. O primeiro olhar é para meu cachorrinho, um amável viralata de pelagem baia que só dorme em caixas de papelão. Emseus 8 anos de vida nunca aceitou casinha, tapetes ou qualquer conforto. Sem uma caixa ele não dorme e evidente que ninguém dorme tamanha a choradeira, uivos e lamentações.
Óbvio que as 6:30 hs da manhã o bicho me fita com um olho só como a dizer que o deixe dormir em paz.
Vejo joaninhas, besouros e outros animaizinhos que também gostam do amanhecer nas folhas das plantas e um e outro caracol retardatário que se arrasta para esconder-se no beco escuro das latas. Mas, o que eu gosto mesmo é de olhar os passarinhos que aparecem no quintal do prédio dos fundos. Existe ali um imponente mamoeiro simplesmente carregado de enormes, suculentos e maduros mamões. Os primeiros a aparecer são os azulões e canários que se esfalfam nas frutas. Para quem nunca observou um azulão a comer um mamão vou tentar explicar como é procedimento. Abrem um buraquinho e vão comendo e alargando até caberem no mesmo, quando entram  e vão saboreando a fruta até que fique oca.
Enquanto isso acontece as rolinhas e juritis passeiam pelos muros, entrâncias, telhadinhos e janelas como quem não quer nada, todas se disfarçando muito tranquilamente. Quando os outros se afastam elas prontamente se dirigem ao mamoeiro. Os pardais e corruíras bem que tentam se meter no café da manhã de frutas, mas são devidamente expulsos. Este panorama está perfeito, lindo e maravilhoso até meu primeiro espirro, o 2º, o 3º, já contei até 17 de certa feita.
Fim da festa para meus olhos. O abençoado pólen levantou-se também e aproximou-se de minhas delicadas narinas. Pessoas que não são sensíveis e alérgicos podem pisar na grama de pés descalços numa boa, mas aos alérgicos isso é motivo de dor no corpo para 2 dias. O delicioso cheirinho da chuva no asfalto seco ou na terra é uma tortura para mim. Eu lacrimejo, tusso e me contorço como uma lagartixa.
Cansada disso e tantos remédios pensei em combater o mal pela raiz eliminando a causa dessa alergia. Investiga daqui, investiga dali e nesse período de investigações me privei de muita coisa inutilmente porque nada tinha a ver com o fenômeno rinite.
Ai, aconteceu uma coisa interessantíssima. Minha pacata e bucólica cidade foi apadrinhada com o sugestivo nome de “Capital Latino Americana da Alergia”.
Pesquisadores começaram num ir e vir interminável medindo a poluição do ar disso e daquilo, com equipamentos, máquinas, medidores e toda sorte de parafernália. Passaram um bom tempo assim nesse vai e vem até que finalmente chegaram a um consenso
O Vilão é o AZEVÉM. “São Google, valei-me, o que é isso?”
Simples, uma gramínea. Sim, uma  grama dessas que tem ai na sua cidade em algum jardim ou praça cujo pólen aqui na Região Sul se torna tão leve que se espalha num raio de 50 ou mais kms quadrados.
Bem, pensei eu com meus travesseiros, vou descobrir qual de tantas gramas é essa e erradicá-la da minha vida, posso ficar longe dela. Doce ilusão pois eu tanto fiz e fucei até que consegui reconhecê-la  entre as outras, mas... descobri também que a porcaria é quase nativa, ou seja, em cada esquina tem aos montes.
Ao andar pelas ruas empanzinada a fungar, tossir e lacrimejar encontro outros sofredores como eu de todos os tamanhos, raças, gêneros e credos a fungar, tossir e lacrimejar o tempo todo.
De certa forma (ó maldadezinha secreta) isso me consola.

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