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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Trabalho Infantil


Você tem coragem de tirar esse ar de satisfação dessa criança?

Fui professora numa época da minha vida. Acho que nos tempos atuais é uma profissão um tanto desgastante, imagina, então para alguém como eu que não tenho a menor vontade de ensinar. Pois bem, nós tínhamos uma ordem de que se víssemos um de nossos alunos trabalhando deveríamos denunciar o fato. Eu me deparei com um menino de 8 anos trabalhando com seu pai. A principio pensei,  e agora? Que faço eu? Mas, rapidinho me decidi.
A alegria desse garoto era tanta, seus olhinhos brilhavam como 2 contas e ele estava num estado tal de felicidade ao fazer aquilo que no dizer dele era o que mais gostava, ou seja, trabalhar com seu pai. Vi-me entre a cruz e a caldeira. E optei pela alegria da criança e a satisfação do pai, homem simples, analfabeto que me dizia que seu filho não seria um marginal, mas um cidadão de bem, um trabalhador. Orientei-o no sentido de que nunca deixasse o garoto faltar as aulas.
Então, eu parei para pensar, porque uma criança não tem o direito de fazer aquilo que gosta. Minha filha quando era pequena adorava varrer e passar pano no chão da casa. Ia porque queria, porque gostava, nunca pedi a ela para fazer aquilo. Nem sempre é trabalho infantil. As vezes é da escolha da criança.
E, porque essas leis só valem para crianças comuns e não valem para crianças estrelas. Vejo tanto cantor, ator, artista de tenra idade deixando de viver uma vida normal para ser um astro e estranhamente ai não é trabalho infantil. Penso que crianças devem ser consultadas sobre o que gostam e querem fazer, eles são inteligentes e tem opinião própria. Esse problema não é só do Brasil, creio que é do mundo todo. Mas, leis devem ser respeitadas e acatadas pela sociedade, mesmo que seja por mega gravadoras e redes de televisão.

sábado, 7 de abril de 2012

Mediocridade


Os olhos castanhos faiscavam. É um cinqüentão, de pele clara, daquela cor que só os italianos tem. Cabelos escuros, a pele alva, estatura média, e descendente de napolitanos. Essa ascendência lhe traz muito orgulho. Não é um homem atraente, não é cativante, não possui aquele dom peculiar aos políticos que se chama empatia, apesar de ter um belo sorriso e ser prestativo e simpático. Não lhe dotou a natureza de carisma que é o que costuma acompanhar as pessoas feias como um presente do Criador para compensá-las e auxiliá-las nesse nosso mundo eternamente em busca da perfeição.
Nosso cinqüentão é um político, fraco nas urnas e invisível para o povo na hora do voto embalde seus esforços para ser bem sucedido. Sendo assim não tem força popular e isso significa que não tem força política. Mas, esse cara possui uma coisa dentro de si que ladinamente esconde. Uma sede imensa de poder, infelizmente aliada a uma boa dose de arrogância e uma dose ainda maior de teimosia.
Descende de uma família de católicos e direitistas fervorosos e é entre discursos de direita que Guilherme é criado e onde finalmente chega aos 18 anos. Ao estudar sobre Darwin, passa por outros pensadores e finalmente chega a Marxs. Toda essa gama de pensadores vai enchendo sua cabeça de ideais que só seriam próprios da idade se não encontrassem terreno tão ambicioso.
Percebendo que poderia ir mais longe na esquerda que na direita resolve trocar de cidade aos 24 anos. Chegado na nova cidade ai trocou de partido e no amplo e novo campo eleitoral ufanou-se de fundador do mesmo aos 19 anos. Com um belo discurso esquerdista ensaiado em segredo por  anos rapidamente convenceu seus correlegionários da veracidade de suas palavras.
Logo começou a galgar cargos no partido. A primeira derrota nas urnas foi para um companheiro partidário. Perdera para um colega que, segundo ele e muitos outros, não tinha a metade da inteligência, argúcia e potencial de Guilherme.
Nosso amigo notou que para chegar onde queria teria que se valer das idéias castradoras de Marx. E, colocou mãos a obra. O primeiro passo foi desviar a atenção dos partidários para qualquer coisa que não fosse o trabalho do colega eleito vereador pela voz do povo. Trabalhando nesse sentido minimizava as idéias do edil, as desprezava, as ridicularizava, tirando assim qualquer apoio ao outro. Mas, como eram boas idéias nunca deixava de anotá-las devidamente em uma agenda sempre nova e atualizada com a qual dava-se ares de muito importante e dono da agremiação. Pensava em usá-las um pouco modificadas, é claro, quando fosse eleito. Mas, em seu entender o povo ainda não sabia votar direito, aprenderiam a escolher melhor seus representantes e então sim, seria devidamente recompensado,  teria seus louros.
Com essa política interna, foi minando os mais fortes, os reais fundadores, os partidários puros e idealistas ou qualquer pessoa que fosse mais criativa ou mais carismática.
Em alguns anos, com algumas derrotas aqui e acolá, encontramos o bambambam do partido  rodeado por mentes medíocres e preguiçosas, algumas até inteligentes, mas acomodadas e dispostas a pegar algum ossinho de galinha do prato do governo para roer. Esses, por sua vez tiveram bom professor e o grande partido agora era formado por uma panelinha disposta a qualquer coisa para se manter em seus status de presidentes disso e de outra coisa acolá, coordenadores do núcleo tal, etc...
Mas, em tudo tem um porém, um quase, uma mudança imperceptível, ou mesmo uma cobrança de uma lei natural que diz que toda causa produz um efeito e que tudo que aqui fazemos, aqui colhemos. Assim também aconteceu aqui.
Imaginem que lugar propício para a morada de uma cobra é um balaio de maçãs algumas podres, outras nem tanto. Torna-se o lugar preferido de algumas espécies pois possui abrigo e alimento suficientes para suprir as necessidades da mesma. Assim aconteceu com o balaio político do qual falamos. Infiltrou-se ai sorrateira, calculista e friamente um animal dessa espécie.
Chegou de outra cidade, ufanando-se de fundador do partido, com um discurso maravilhoso e convincente que,  logo convenceu nossos poderosos lideres e claro, o maior de todos eles. (Óbvio que se alguém investigasse a vida pregressa do homem descobriria que ele fora vereador da direita, mas ninguém o fez.) Guilherme como a pressentir no estranho afável  uma alma irmã deu a este todas as oportunidades que negou a tantos outros. Pensou em doutrinar seu homem e infiltrá-lo no diretório regional do partido para dar grandes pulos com o apoio do mesmo.
Agora, nesta manhã amargava uma cruel decepção, mais uma de tantas, consequência de sua arrogância que o impedia de ver claramente.
O homem, feito no partido para ser o trampolim  secreto de Guilherme para a Assembléia Legislativa, mostrou suas garras fechando acordo com o principal adversário político do italiano, um jovem, talentoso e carismático, que vinha se tornando conhecido pelo seu dom de oratória convincente e honesto. Enfim, um idealista puro com todos os dons aos quais o nosso amigo não tinha acesso em sua mente teimosa e obstinada. O jovem, percebendo o ponto fraco, ofereceu gorda quantia e não sei quantos cargos pelo voto de minerva do assecla do nosso bravo.
O resultado de tanta trama e manobra, viu-se na noite anterior onde Guilherme perdeu a oportunidade tão cobiçada de concorrer a deputado estadual.
Nesse momento, após passar a noite em claro parado a janela observando sem ver os primeiros raios de sol,  com os olhos faiscantes de ódio pela derrota, pergunta-se o que houve de errado.
Vai descobrir a verdade logo, que foi traido da mesma forma que traiu em sua soberba e sede de poder.
Vocês sabem como é isso de cobras. Nesse balaio tão promissor já existiam muitos filhotes e não faltará quem conte a Guilherme a verdade.

sexta-feira, 30 de março de 2012

O Vilão da Rinite


Estou aqui fungando feito uma condenada a espirros e lágrimas em pleno ataque de Rinite. Para quem não sofre desse mal pode parecer nada, mas, eu peço para vocês imaginarem um resfriado eterno.
E, isso nos tolhe de uma maneira que não conseguimos aproveitar os menores e gratuitos benefícios da natureza. Eu adoro levantar cedo e ver a bendita despertar aos poucos preguiçosamente  com os lentos raios do sol. Eu moro no centro da cidade e, lá pelas 5:30 hs da manhã tudo começa com um longínquo cantar de um galo. Me pergunto, como em pleno centro alguém consegue criar um galo, mas, o fato é que o bichinho canta pontualmente todos os dias. Um ou outro carro se manifesta na minha rua, talvez madrugadores cujas funções profissionais os levam antes dos outros ao seu local de oficio ou, o contrário, pessoas saindo de seus trabalhos.
Quando o primeiro ônibus para no ponto são 6 hs da manhã e esta é a minha hora. Levanto de um pulo só e desapareço de perto da cama.
Ainda escuto o suave cha,cha  das vassouras dos varredores de rua que em silêncio absoluto limpam tudo para que as massas transitem aos milhares por esta via pública durante o dia.
Tranquilamente eu me dirijo para os fundos do meu apartamento onde uma mínima área de serviço me permite um estreito convívio com a natureza. O primeiro olhar é para meu cachorrinho, um amável viralata de pelagem baia que só dorme em caixas de papelão. Emseus 8 anos de vida nunca aceitou casinha, tapetes ou qualquer conforto. Sem uma caixa ele não dorme e evidente que ninguém dorme tamanha a choradeira, uivos e lamentações.
Óbvio que as 6:30 hs da manhã o bicho me fita com um olho só como a dizer que o deixe dormir em paz.
Vejo joaninhas, besouros e outros animaizinhos que também gostam do amanhecer nas folhas das plantas e um e outro caracol retardatário que se arrasta para esconder-se no beco escuro das latas. Mas, o que eu gosto mesmo é de olhar os passarinhos que aparecem no quintal do prédio dos fundos. Existe ali um imponente mamoeiro simplesmente carregado de enormes, suculentos e maduros mamões. Os primeiros a aparecer são os azulões e canários que se esfalfam nas frutas. Para quem nunca observou um azulão a comer um mamão vou tentar explicar como é procedimento. Abrem um buraquinho e vão comendo e alargando até caberem no mesmo, quando entram  e vão saboreando a fruta até que fique oca.
Enquanto isso acontece as rolinhas e juritis passeiam pelos muros, entrâncias, telhadinhos e janelas como quem não quer nada, todas se disfarçando muito tranquilamente. Quando os outros se afastam elas prontamente se dirigem ao mamoeiro. Os pardais e corruíras bem que tentam se meter no café da manhã de frutas, mas são devidamente expulsos. Este panorama está perfeito, lindo e maravilhoso até meu primeiro espirro, o 2º, o 3º, já contei até 17 de certa feita.
Fim da festa para meus olhos. O abençoado pólen levantou-se também e aproximou-se de minhas delicadas narinas. Pessoas que não são sensíveis e alérgicos podem pisar na grama de pés descalços numa boa, mas aos alérgicos isso é motivo de dor no corpo para 2 dias. O delicioso cheirinho da chuva no asfalto seco ou na terra é uma tortura para mim. Eu lacrimejo, tusso e me contorço como uma lagartixa.
Cansada disso e tantos remédios pensei em combater o mal pela raiz eliminando a causa dessa alergia. Investiga daqui, investiga dali e nesse período de investigações me privei de muita coisa inutilmente porque nada tinha a ver com o fenômeno rinite.
Ai, aconteceu uma coisa interessantíssima. Minha pacata e bucólica cidade foi apadrinhada com o sugestivo nome de “Capital Latino Americana da Alergia”.
Pesquisadores começaram num ir e vir interminável medindo a poluição do ar disso e daquilo, com equipamentos, máquinas, medidores e toda sorte de parafernália. Passaram um bom tempo assim nesse vai e vem até que finalmente chegaram a um consenso
O Vilão é o AZEVÉM. “São Google, valei-me, o que é isso?”
Simples, uma gramínea. Sim, uma  grama dessas que tem ai na sua cidade em algum jardim ou praça cujo pólen aqui na Região Sul se torna tão leve que se espalha num raio de 50 ou mais kms quadrados.
Bem, pensei eu com meus travesseiros, vou descobrir qual de tantas gramas é essa e erradicá-la da minha vida, posso ficar longe dela. Doce ilusão pois eu tanto fiz e fucei até que consegui reconhecê-la  entre as outras, mas... descobri também que a porcaria é quase nativa, ou seja, em cada esquina tem aos montes.
Ao andar pelas ruas empanzinada a fungar, tossir e lacrimejar encontro outros sofredores como eu de todos os tamanhos, raças, gêneros e credos a fungar, tossir e lacrimejar o tempo todo.
De certa forma (ó maldadezinha secreta) isso me consola.
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