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sábado, 7 de abril de 2012

Mediocridade


Os olhos castanhos faiscavam. É um cinqüentão, de pele clara, daquela cor que só os italianos tem. Cabelos escuros, a pele alva, estatura média, e descendente de napolitanos. Essa ascendência lhe traz muito orgulho. Não é um homem atraente, não é cativante, não possui aquele dom peculiar aos políticos que se chama empatia, apesar de ter um belo sorriso e ser prestativo e simpático. Não lhe dotou a natureza de carisma que é o que costuma acompanhar as pessoas feias como um presente do Criador para compensá-las e auxiliá-las nesse nosso mundo eternamente em busca da perfeição.
Nosso cinqüentão é um político, fraco nas urnas e invisível para o povo na hora do voto embalde seus esforços para ser bem sucedido. Sendo assim não tem força popular e isso significa que não tem força política. Mas, esse cara possui uma coisa dentro de si que ladinamente esconde. Uma sede imensa de poder, infelizmente aliada a uma boa dose de arrogância e uma dose ainda maior de teimosia.
Descende de uma família de católicos e direitistas fervorosos e é entre discursos de direita que Guilherme é criado e onde finalmente chega aos 18 anos. Ao estudar sobre Darwin, passa por outros pensadores e finalmente chega a Marxs. Toda essa gama de pensadores vai enchendo sua cabeça de ideais que só seriam próprios da idade se não encontrassem terreno tão ambicioso.
Percebendo que poderia ir mais longe na esquerda que na direita resolve trocar de cidade aos 24 anos. Chegado na nova cidade ai trocou de partido e no amplo e novo campo eleitoral ufanou-se de fundador do mesmo aos 19 anos. Com um belo discurso esquerdista ensaiado em segredo por  anos rapidamente convenceu seus correlegionários da veracidade de suas palavras.
Logo começou a galgar cargos no partido. A primeira derrota nas urnas foi para um companheiro partidário. Perdera para um colega que, segundo ele e muitos outros, não tinha a metade da inteligência, argúcia e potencial de Guilherme.
Nosso amigo notou que para chegar onde queria teria que se valer das idéias castradoras de Marx. E, colocou mãos a obra. O primeiro passo foi desviar a atenção dos partidários para qualquer coisa que não fosse o trabalho do colega eleito vereador pela voz do povo. Trabalhando nesse sentido minimizava as idéias do edil, as desprezava, as ridicularizava, tirando assim qualquer apoio ao outro. Mas, como eram boas idéias nunca deixava de anotá-las devidamente em uma agenda sempre nova e atualizada com a qual dava-se ares de muito importante e dono da agremiação. Pensava em usá-las um pouco modificadas, é claro, quando fosse eleito. Mas, em seu entender o povo ainda não sabia votar direito, aprenderiam a escolher melhor seus representantes e então sim, seria devidamente recompensado,  teria seus louros.
Com essa política interna, foi minando os mais fortes, os reais fundadores, os partidários puros e idealistas ou qualquer pessoa que fosse mais criativa ou mais carismática.
Em alguns anos, com algumas derrotas aqui e acolá, encontramos o bambambam do partido  rodeado por mentes medíocres e preguiçosas, algumas até inteligentes, mas acomodadas e dispostas a pegar algum ossinho de galinha do prato do governo para roer. Esses, por sua vez tiveram bom professor e o grande partido agora era formado por uma panelinha disposta a qualquer coisa para se manter em seus status de presidentes disso e de outra coisa acolá, coordenadores do núcleo tal, etc...
Mas, em tudo tem um porém, um quase, uma mudança imperceptível, ou mesmo uma cobrança de uma lei natural que diz que toda causa produz um efeito e que tudo que aqui fazemos, aqui colhemos. Assim também aconteceu aqui.
Imaginem que lugar propício para a morada de uma cobra é um balaio de maçãs algumas podres, outras nem tanto. Torna-se o lugar preferido de algumas espécies pois possui abrigo e alimento suficientes para suprir as necessidades da mesma. Assim aconteceu com o balaio político do qual falamos. Infiltrou-se ai sorrateira, calculista e friamente um animal dessa espécie.
Chegou de outra cidade, ufanando-se de fundador do partido, com um discurso maravilhoso e convincente que,  logo convenceu nossos poderosos lideres e claro, o maior de todos eles. (Óbvio que se alguém investigasse a vida pregressa do homem descobriria que ele fora vereador da direita, mas ninguém o fez.) Guilherme como a pressentir no estranho afável  uma alma irmã deu a este todas as oportunidades que negou a tantos outros. Pensou em doutrinar seu homem e infiltrá-lo no diretório regional do partido para dar grandes pulos com o apoio do mesmo.
Agora, nesta manhã amargava uma cruel decepção, mais uma de tantas, consequência de sua arrogância que o impedia de ver claramente.
O homem, feito no partido para ser o trampolim  secreto de Guilherme para a Assembléia Legislativa, mostrou suas garras fechando acordo com o principal adversário político do italiano, um jovem, talentoso e carismático, que vinha se tornando conhecido pelo seu dom de oratória convincente e honesto. Enfim, um idealista puro com todos os dons aos quais o nosso amigo não tinha acesso em sua mente teimosa e obstinada. O jovem, percebendo o ponto fraco, ofereceu gorda quantia e não sei quantos cargos pelo voto de minerva do assecla do nosso bravo.
O resultado de tanta trama e manobra, viu-se na noite anterior onde Guilherme perdeu a oportunidade tão cobiçada de concorrer a deputado estadual.
Nesse momento, após passar a noite em claro parado a janela observando sem ver os primeiros raios de sol,  com os olhos faiscantes de ódio pela derrota, pergunta-se o que houve de errado.
Vai descobrir a verdade logo, que foi traido da mesma forma que traiu em sua soberba e sede de poder.
Vocês sabem como é isso de cobras. Nesse balaio tão promissor já existiam muitos filhotes e não faltará quem conte a Guilherme a verdade.

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